domingo, 25 de janeiro de 2009

Contudo, à força de encontrar em cada canto a "Introdução à Psicanálise", e seguindo o conselho de dois ou três colegas empolgados, resolvi lançar os olhos sobre o alentado volume. O que esperava encontrar? Sem dúvida coisas proibidas, tudo aquilo que os antigos manuais classificam como indecências. Minha decepção foi enorme. Não compreendia o que entusiasmava tantos os estudantes naquelas páginas de leitura árida. O que havia naquelas crianças complicadas e repugnantes, naqueles bebés imundos, para despertar tanto interesse? As nurseries transformavam-se em antros de orgia onde triunfava o urinol. Tudo se resumia em paixões incestuosas pela mãe e desejos imperiosos de matar o pai. Graças a Deus, nada disso se aplicava à minha pessoa, e conferi a mim mesmo uma grande menção de louvor. Para mim, o que valia era a muralha sólida da Igreja envolvendo minha preciosa pessoa e protegendo-me de todas as imundícies do mundo.
E continuei sozinho, orgulhoso e incompreendido.

(Adrienne Mesurat, Julien Green, Novo Século Editora, S. Paulo)

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