sábado, 17 de janeiro de 2009

«A religião!», exclamou Kliman. «Porque é que eles não confiam na bola de cristal para saber a verdade? Suponhamos que se vinha a concluir que afinal a evolução era um disparate, suponhamos que Darwin era mesmo louco. Haverá loucura maior do que a explicação do Génesis para as origens do homem? Isto é gente que não acredita no conhecimento. Não acreditam no conhecimento exactamente como eu não acredito na fé. Dá-me vontade de ir para a rua», disse-me Kliman, «e fazer um longo discurso.»
«Não ia adiantar», disse-lhe eu.
«O senhor tem mais experiência do que eu: o que é que adianta?»
«A solução dos senis: esquecer.»
«O senhor não é senil», disse Kliman.
«Mas esqueci.»
«Tudo?», perguntou ele, dando-me uma pista de uma possível relação que talvez tentasse estabelecer e explorar: o homem jovem que pede um conselho sábio ao homem mais velho.
«Absolutamente tudo», respondi eu com sinceridade - e como se tivesse mordido o isco.

(O Fantasma Sai de Cena, Philip Roth)

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