quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

"decisões administrativas"

Um dos meus contos preferidos de Rubem Fonseca é A Confraria dos Espadas.
Começa com a escolha do nome da Confraria «da Boa Cama foi descartado por parecer uma associação de dorminhocos; Confraria dos Apreciadores da Beleza Feminina, além de muito longo, foi considerado reducionista e esteticista, não nos considerávamos estetas no sentido estrito, Picasso estava certo ao odiar o que denominava o jogo estético do olho e da mente manejado pelos connaisseurs que “apreciavam” a beleza e, afinal, o que era a “beleza”? Nossa confraria era de Fodedores e, como disse o poeta Whitman num poema correctamente intitulado A Woman Waits for Me, sexo contém tudo, corpos, almas, significados, provas, purezas, delicadezas, resultados, promulgações, canções, comandos, saúde, orgulho, mistério maternal, leite seminal, todas as esperanças, benefícios, doações e concessões, todas as paixões, belezas, delícias da terra»; adianta-se outra possibilidade: Confraria dos Mãos Itinerantes, proposta a partir do poema de John Donne - Seduction. License my roving hands, and let them go before, behind, between, above, below. Ficou Confraria dos Espadas - «o termo Espada como sinónimo de Fodedor veio do mundo marginal». E assim se cria uma Irmandade para defender «esse axioma absoluto» que «foder é viver». E qual é o objectivo desta Confraria? «descobrir como atingir, plenamente, o orgasmo sem ejaculação».
A história acaba mal. Adivinha-se. «E se a minha mulher, que eu amava tanto, pedisse, e ela poderia fazer isso a qualquer momento, que eu ejaculasse sobre os seus delicados seios alabastrinos?». Não pode. Uma vez dominado o segredo não há como voltar atrás. A cópula metafísica transforma os homens em seres «estranhos» às mulheres, porque (e deve ser por isto que eu gosto deste conto), «o exaurimento dele, macho, representava o fortalecimento dela, fêmea».
Hoje lembrei este conto, voltei a ele; também a propósito de decisões administrativas.

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